Vivemos em um mundo exteriorizado, a qual expurgamos a busca pela simplicidade e mergulhamos no profundo desejo obscuro de se auto flagelar no consumismo exagerado e degeneração moral, por isso, o intuito do nosso blog é buscar um olhar mais amoroso do mundo, e através de poemas, podendo resgatar a simplicidade na forma de vivenciar as coisas belas e quem sabe salientar os desejos da alma, e assim buscar o nosso eu interior.

segunda-feira, 21 de novembro de 2016

TODA MULHER É MIRAGEM



Toda mulher é uma viagem
ao desconhecido. Igual poesia
avessa ao verso e à trucagem,
mulher é iniciação do dia,

promessa, surpresa, miragem.
De nada adiantam mapas, guias,
cenas ensaiadas ou pilhagens.
Controverso ser, mulher é via

de mão única, abismo, moagem.
É também risco máximo, magia,
caminho íngreme na paisagem.

Simplificando: mulher é linguagem,
palavra nova, imagem que anistia

o ser, o vir-a-ser e outras bobagens


Rubens Jardim



Análise:
  Aqui existe uma admiração personificada da mulher, descrita de forma fragmentada: qual homem nunca se apaixonou pelas muitas facetas existente na personalidade feminina, fazendo do homem apenas um telespectador de suas promessas, surpresas e miragens, fazendo o homem cair no seu abismo imaginário e até correndo o risco da contemplação sem ao menos entender sua linguagem, afinal, cada mulher é um ser único e cada uma pode em si despertar desejos no íntimo do homem.






A DESEJADA




Onde está a desejada da minha alma,
a mulher que criou janelas, portas e abismos
e se escondeu de todos os meus caminhos?
Antes que o tempo destrua minha calma

Eu quero me debruçar sobre sua presença.
Ou sobre sua lembrança. Preciso de um prisma
Para celebrar as suas cóleras, as suas cismas.
A desejada da minha alma é uma sentença

Que  ficou no avesso controverso do fichário,
é o verso rabiscado em um momento raro,
é a urgência escrita desta brasa imaginária.

Sou o construtor desta mulher lendária
que me habita como botequim ignaro

e me faz louvar até as mágoas mais ordinárias.

Rubens Jardim 

Análise:
Construir a mulher ideal é talvez um hábito incomum de qualquer homem, mesmo que não confesse. Ser construtor de uma mulher lendária, fazendo dela um ser único, digna de toda devoção, pode ser um caminha para tentar entender a alma feminina ou apenas uma busca de satisfazer o alter ego masculino, mesmo que essa mulher seja imaginária, pois, uma mulher mesmo que personificada pode mexer com o instinto do homem, com seus signos e significados, podendo assim, abrir as janelas da alma ou apenas nos fazer se jogar em pensamentos ordinários.


segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Epigrama para Emílio Moura



Tristeza de ver a tarde cair
como cai uma folha
(No Brasil não há outono
mas as folhas caem.)

Tristeza de comprar um beijo
como quem compra jornal.
Os que amam sem amor
não terão o reino dos céus.

Tristeza de guardar um segredo
que todos sabem
e não contar a ninguém

(que esta vida não presta).


Carlos Drummond de Andrade 

Análise:

Vejo tristeza no olhar desesperado de quem enxerga a vida de uma forma real e aqueles que veem os sonhos se despedaçando como folhas que caem em um Brasil sem outono.
  Comprar o amor é como se entregar a plenitude das coisas sem valor, tudo que não se conquista pode ir de forma fácil, o amor não é como comprar jornal em uma banca qualquer.
  Tristeza é o olhar desesperado sobre o mundo, tristeza é o amor comprado em banca de jornal, tristeza é esperar a tarde ir embora como a briza do vento que derruba as folhas pelo ar, tristeza é guardar o maior segredo do  mundo, de que a vida não presta, mas como disse o poeta, disso todo mundo sabe.


Quero me Casar


Quero me Casar
Quero me casar
na noite na rua
no mar ou no céu
quero me casar.

Procuro uma noiva
loura morena
preta ou azul
uma noiva verde
uma noiva no ar
como um passarinho.

Depressa, que o amor

não pode esperar.


Carlos Drummond de Andrade


Análise:

Casamento sabe se lá o sonho de quem, talvez de todas as pessoas romântico ou de alguém que busque apenas um verdadeiro amor, talvez casar para se comprometer com alguém especial ou apenas para seguir a tradição. Não específico a dualidade entre o amor e o casamento, mais sei que casar é o sonho de muitos por aí, então que case depressa e descubra se o verdadeiro amor se compromete com a certeza da união, mas sei que o amor não pode esperar, então case depressa, quando uma noiva encontrar.


Tempo&Espaço




rio
sem
mar
gem

Meu
tem
po
é ver
tigem

Flor
esta
em
chamas

Meu
es
paço
é pas

sagem


Rubens Jardim 


análise:

O poema faz alusão ao rio que passa a ilusão do tempo e da vertigem do espaço, o autor se refere a esse tempo e espaço que passa sem sentido, a flor que  simboliza a beleza está queimando assim como nossa vida está passando.





Passagem da Noite



É noite. Sinto que é noite
não porque a sombra descesse
(bem me importa a face negra)
mas porque dentro de mim,
no fundo de mim, o grito
se calou, fez-se desânimo.
Sinto que nós somos noite,
que palpitamos no escuro
e em noite nos dissolvemos.
Sinto que é noite no vento,
noite nas águas, na pedra.
E que adianta uma lâmpada?
E que adianta uma voz?
É noite no meu amigo.
É noite no submarino. É noite na roça grande.
É noite, não é morte, é noite
de sono espesso e sem praia.
Não é dor, nem paz, é noite,
é perfeitamente a noite.



Mas salve, olhar de alegria!
E salve, dia que surge!
Os corpos saltam do sono,
o mundo se recompõe.
Que gozo na bicicleta!
Existir: seja como for.
A fraterna entrega do pão.
Amar: mesmo nas canções.
De novo andar: as distâncias,
as cores, posse das ruas.
Tudo que à noite perdemos
se nos confia outra vez.
Obrigado, coisas fiéis!
Saber que ainda há florestas,
sinos, palavras; que a terra
prossegue seu giro, e o tempo
não murchou; não nos diluímos.
Chupar o gosto do dia!
Clara manhã, obrigado,
o essencial é viver!



Carlos Drummond de Andrade 


Análise:

E que mesmo passando por uma dificuldade ou um momento triste ainda há  palavras, esperança que o amanhã sempre será bem-vindo e que no final de tudo o essencial é viver pois dificuldade sempre teremos

Ser






O filho que não fiz
hoje seria homem.
Ele corre na brisa,
sem carne, sem nome.

Às vezes o encontro
num encontro de nuvem.
Apoia em meu ombro
seu ombro nenhum.

Interrogo meu filho,
objeto de ar:
em que gruta ou concha
quedas abstrato?

Lá onde eu jazia,
responde-me o hálito,
não me percebeste,
contudo chamava-te

como ainda te chamo
(além, além do amor)
onde nada, tudo
aspira a criar-se.

O filho que não fiz
faz-se por si mesmo.


Carlos Drummond de Andrade 


Análise
O filho que ele não teve, se faz por si mesmo! É o remorso  batendo na porta depois de muito tempo pelas coisas que ele não fez, as atitudes que não teve e as coisas que deixou passar quando era mais jovem


quinta-feira, 10 de novembro de 2016

A HORA IMÓVEL




Tenho dúvidas se estou por dentro
ou por fora
mesmo na hora do amor.
Pareço letra perdida à procura
da palavra.
Mas as palavras também se perderam
dos usos cotidianos
e da realidade .
Elas escaparam do papel
e criaram seus próprios espaços
cênicos.
Fala-se que as palavras se libertaram
e que elas hoje frequentam
outros ambientes.
Estão em objetos e performances.
Em leis que não são aplicadas

E eu fico aqui me perguntando
onde está a palavra antes da palavra?
Aquela que nos devolve sem cessar
a consciência da total ambivalência?
Aquela que rompe com os marcos
da duração e estabelece a hora imóvel
que os relógios não marcam?

Rubens Jardim 


Análise:
Estou   em seguro do amor que procuro, sem palavras e uma tinta para escrever belas palavras e tudo se apaga e o papel se torna em branco.
Entre todas as palavras fica sem valor nenhum. O até nas leis do homem.




NASCIMENTO





O poema não nasce
do corpo amado
nem do orgasmo
nem do espasmo

O poema não nasce
da ferida aberta
nem da cicatriz
nem da gase e da raiz

O poema nasce
da ruptura verbal
do estranhamento linguístico
de qualquer coisa além
da fala. Ou do pensamento.




Rubens Jardim



Análise:
O poema nasce do sentido exterior, e do dia-dia uma semente plantada. Como um renascimento de uma luz brilhante na aurora como cristal e surgindo várias palavras de amor.


Paixão





1
Nunca mais vou sair
do Ajuntament de Girona.
Estou à mercê dessa
cidade e não vou
abandonar aquilo que fui
dentro de suas muralhas
para penetrar no futuro
essa fogueira escura.

Não quero novos itinerários.

Sei que existem nuevos rincones
y nuevos descobrimientos.

Mas eu quero ficar em Girona.

Preciso descobrir
entre a luz e a pedra,
a mão que prende
a eternidade ao nada.
2
Me deixem ficar na Catedral
de Girona rodeado de vidrieras,
platas repujadas, anjos e esculturas.
Sei que os toques manuais dos sinos
desapareceram da torre
e os bronzes sagrados
já não vibram ritmos tradicionais.
Mas o que importa isso
se aqui encontrei a proporção
exata dos homens e de Deus..
3
Em nenhum outro templo
gótico eu percebi pulsar tanto
a serenidade e o silêncio.
Aqui até os santos imploram
para não sair dos altares.
4
Nesta Igreja de Sant Feliu
entre sarcófagos pagãos e cristãos
eu permaneço de mãos dadas
com o impossível. Até o Cristo
de alabastro se comove com
as palavras que ainda vivem
na boca do padre e irrompem
resolutas, sagradas, sangradas.
É pela boca que começa
o juízo inicial . E final.
5
Como se fosses minha e
jamais me abandonasses,
Assim te busco, impossível
cidade que me liberta do
chão, do céu, desse canto
desse beco e dessa esquina
escondida nos mil disfarces
da palavra.

Versos da solidão,

cotovia sagrada.

Eu te sagro nesta praça

Eu te sangro nos beirais
precipitados do meu amor


Rubens Jardim


Análise:

É como estar  mergulhado em paixões humanas, envolvido em ilusões temporais entre cidades. Permanecer entre luz e escuridão mas a busca da verdadeira luz.
Estou perdido nessa cidade, mas ficarei no meio dos Anjos de luz, coberto de vidro brilhante, flores verdejantes e perfumadas. Lá dentro da Catedral e a proteção de Deus. Fico na cidade na catedral da igreja, envolvido com as palavras do padre, de amor do cristo que do juízo final. Transmite a salvação e disfarço da solidão e mi consagro ao senhor. toda beira para o amor ...